Mergulhe na criação de alfabetos alienígenas únicos de Rebel Moon. Desde o inspirado Novo Império até o fascinante Ahriq. Descubra como essas linguagens visuais contribuem para a autenticidade do filme. ~ Texto extraído do blog do designer Louie Mantia, autor por trás dessas criações extraordinárias.
Em 2015, o autor Louie Mantia, assistiu a Tomorrowland de Brad Bird e ficou impressionado com o design da produção, especialmente nas cenas que reproduzem a Feira Mundial de 1964 e em Tomorrowland. Um elemento central na trama e na divulgação do filme era um distintivo circular laranja e azul com a letra T em perspectiva exagerada.
Após os créditos, Louie Mantia descobriu que o responsável por esse notável design gráfico era Clint Schultz, que também trabalhou no reboot de Star Trek dirigido por J.J. Abrams. A surpresa foi grande, pois o autor, que cria ícones, já havia produzido os ícones oficiais de Star Trek para a Paramount, incluindo os distintivos da Frota Estelar e os padrões de tecido.
A conexão com Clint se estabeleceu em 2017, quando o Mantia visitou o estúdio da Disney em Burbank. Clint apresentou-o a Vanessa Hunt, responsável pelos arquivos da WDI, que posteriormente o envolveu em projetos gráficos para uma exposição na Imagineering Research Library.
No início de 2022, Clint informou a Mantia sobre seu trabalho em um novo filme, criando alfabetos alienígenas. Animado, o autor expressou o desejo de participar de algo assim, e Clint ofereceu-lhe a oportunidade.
Rebel Moon de Zack Snyder
Louie Mantia ingressou em Rebel Moon de Zack Snyder ao participar de reuniões com Clint, Adam Forman e Dra. Christine Schreyer.
A Dra. Christine atuava como consultora de linguagem, oferecendo orientações sobre o som das línguas e a quantidade de caracteres necessária para o alfabeto. Adam trabalhava na estética do Império, incluindo seu alfabeto e estilo caligráfico.
Novo Império
O papel do Mantia era transformar esse alfabeto em fontes para os designers usarem na criação de gráficos. Após uma análise, ele forneceu notas e esboços demonstrando como tornar o alfabeto mais plausível para os habitantes do universo escreverem à mão, se necessário.
Após a aprovação da versão atualizada do alfabeto de Adam, o autor criou diversos estilos para o Novo Império. Utilizando o RoboFont, ajustou espaçamentos, kernings e criou estilos adicionais.
Inserção do alfabeto no filme
O Novo Império não é um alfabeto de 26 letras com uma relação 1:1 com o alfabeto inglês, mas sim um sistema de escrita diferente que requer a transliteração de palavras em inglês. Christine ficou responsável por essa tradução para os designers gráficos do filme. Por exemplo, o nome desse alfabeto poderia ser escrito como “Nu Impiriyum”.
Enquanto trabalhava nessas fontes, o autor recebeu a ajuda de seu amigo Ender. Após desenhar cada fonte do Novo Império, Ender cuidava do espaçamento e do código de recursos OpenType para fazê-las funcionar, permitindo que o autor continuasse trabalhando na próxima.
Em Daggus, há dezenas de peças contendo a escrita do Novo Império, incluindo pôsteres, displays digitais, placas e até mesmo grafites. Assim como as fontes no mundo real que imitam outros scripts, Ender criou um estilo falso e antigo do Novo Império que reproduz o sistema de escrita desenvolvido por Adam para relíquias antigas, como o clube Noble e a cabeça de Jimmy.
Ao todo, foram desenvolvidas doze fontes para o Novo Império: Padrão, Estêncil Padrão, Ultra, Ultra Marine, Alphabetti, Vida Noturna, Saboroso, Bytes Saborosos, Manteiga, Faca de Manteiga, Pilot 0,5mm e Pilot 1,0mm.
Além da fase final de desenvolvimento desse alfabeto, o autor também criou diversas pontuações, um símbolo de moeda e dois conjuntos de numerais, comparáveis aos sistemas árabe e romano.
Veldt
Adam colaborou com Christine para criar alguns conceitos para um alfabeto no estilo rúnico. Este possuía menos letras (12 no total), sendo que a maioria delas tinha diacríticos acima ou abaixo para modificar os sons dessas letras.
O autor se fascinou com a ideia de um alfabeto com base em runas, mas desejou que cada runa fosse de uma versão anterior na história de Veldt. Por exemplo, a escrita cuneiforme evoluiu a partir de pictogramas sumérios, enquanto o script hierático egípcio simplificou hieróglifos. O chinês moderno tem origem em scripts pictóricos mais antigos.
E se o alfabeto de Veldt tivesse uma história semelhante?
Com isso em mente, o Louie Mantia projetou um alfabeto rústico, semelhante ao de Adam, mas cada caractere simbolizava uma parte importante da história agrícola de Veldt, conferindo significados literais e figurativos a cada caractere. Dado curioso™: os dois diacríticos se chamam Colheita (imagem acima) e Semente (gif mais abaixo).
As ideias esboçadas foram transformadas em entalhes antigos cinzelados e, em seguida, recriadas como runas simplificadas. Ender levou Veldt ainda mais longe, criando um estilo de escrita para ele, o que foi extremamente impressionante.
Para os numerais, o autor considerou que todo o universo poderia se beneficiar de uma padronização, semelhante ao uso dos algarismos arábicos em nosso mundo. Portanto, criou os mesmos números do alfabeto do Novo Império, com um toque local em seu estilo, combinando com as runas alfabéticas, mas em um estilo de meia largura.
Providence
A Cidade Portuária de Providence, localizada em Veldt, possui uma estética diferente da vila agrícola. A descrição visual da cidade é uma mistura de “Velho Oeste com Japão”. Com um prazo menor que os projetos anteriores, foi solicitado ao autor que desenvolvesse um sistema de escrita para Providence.
A solicitação era meio direção criativa, meio questão de praticidade: criar um alfabeto vagamente asiático que correspondesse 1:1 ao alfabeto inglês, ou seja, apenas de A a Z.
Embora fosse mais simples limitar-se apenas ao A-Z, o autor encarou a oportunidade de criar algo divertido por conta própria durante um fim de semana. E, afinal, o que seria mais característico de Louie Mantia do que fazer muito mais do que o necessário?
Ele começou desenhando 40 caracteres, sem saber como seria a estrutura do alfabeto. Embora estivesse disposto a desenhar mais, era necessário um plano.
Mais um novo e complexo alfabeto nascia
Em colaboração com Ender, discutiram o uso da função de ligaduras OpenType para substituir dois glifos por um, o que o levou a trabalhar sem parar para criar um sistema de escrita com todas as combinações de consoante e vogal em inglês, resultando em mais de 100 caracteres diferentes. Embora não seja um sistema silábico real como o Hangul, ele o imita.
Todos os designers precisavam fazer era digitar qualquer palavra em inglês, e, por meio do poder do OpenType, a palavra em linguagem Providence aparecia com um número diferente de caracteres em comparação à palavra em inglês.
Ender precisou criar muitas ligações para fazer isso funcionar, economizando tempo aos designers, que não precisavam traduzir palavras no meio do processo de design, enquanto ainda mantinham alguma complexidade percebida na linguagem visual.
Mais combinações
Além das combinações de consoante e vogal, também existem vários dígrafos comuns encontrados no inglês.
Por fim, os numerais seguem o padrão dos dois sistemas de escrita anteriores, adaptando-se à estética deste alfabeto. O zero, no entanto, utiliza uma solução divertida (pelo menos para o autor). Em vez de renderizar o zero de maneira semelhante aos outros dois sistemas de escrita, ele usa os componentes de “consoante nula” e “vogal nula” em combinação para criar um caractere que representa “nada”.
Há um total de 7 fontes para esta linguagem, em quatro estilos com pesos diferentes: Gótica S, Gótica M, Gótica X, Pincel S, Pincel X, Maru M (arredondada) e Mincho M (com serifa).
Com tal liberdade dada para este alfabeto, acredita-se que foi possível criar algo realmente especial em um curto período, contribuindo para manter a produção no cronograma.
Ahriq
A última contribuição de Louie Mantia para Rebel Moon foi destinada ao planeta natal de Kora. A cidade onde ela reside quando criança foi atacada com fogos pelo Império. A orientação recebida de Josh McKevitt (outro designer gráfico ao lado de Clint) tinha como inspiração algo árabe, sendo referida apenas como a “aldeia queimada”. Com isso, Louie embarcou na criação do que chamou de Ahriq, uma romanização da palavra árabe para “queimado”.
O verdadeiro script árabe possui características visuais marcantes, como uma aparência de script cursivo, pontos e diacríticos, e direção de escrita da direita para a esquerda.
A maneira como a direção da direita para a esquerda funciona dentro de uma fonte é com base na codificação dos caracteres. Caracteres árabes e hebraicos são conhecidos por serem scripts da direita para a esquerda, então eles funcionam automaticamente dessa maneira. No entanto, não parece haver uma maneira fácil de fazer com que uma língua construída (conlang) use a funcionalidade da direita para a esquerda sem algumas soluções complicadas. Louie queria fazer isso, mas se a fonte fosse intencionalmente invertida, eles teriam que garantir que os designers se lembrassem de inverter horizontalmente o resultado antes de criar qualquer adereço. Isso não parecia infalível.
Processo de Criação
Ender e Louie desenvolveram algumas ideias sobre como fazer diacríticos de maneira automática, com base nos recursos de fontes OpenType. Isso permitiria que os designers digitassem qualquer coisa facilmente. A solução encontrada foi eliminar os caracteres vogais, representando todos eles de maneira idêntica, apenas como um ponto acima do caractere consoante precedente.
Por exemplo, “ciao” seria um C com três pontos acima. Além disso, palavras que contêm consoantes que se repetem são indicadas por um diacrítico “sapato” abaixo da consoante. Essas escolhas condensam seriamente a aparência visual das palavras escritas em inglês e o tamanho do conjunto de caracteres um pouco, mas isso exigiu algum tempo de engenharia para Ender.
Como você pode imaginar, os numerais seguiram a mesma abordagem dos outros scripts acima.
Considerações de Louie Mantia
Inventar alfabetos alienígenas é uma das coisas mais legais para Louie.
Assim, para ele, este projeto foi uma verdadeira alegria para trabalhar, e Louie está muito orgulhoso de seu trabalho nele. Ele gostaria de poder fazer esse tipo de coisa o dia todo, pois acha isso extremamente divertido.
E embora Louie saiba que os sistemas de escrita desenvolvidos aqui com Clint, Josh, Adam, Christine e Ender são apenas uma pequena parte da produção, eles ajudam a tornar o cenário plausível e habitado para a audiência, e ele espera que as pessoas possam apreciá-los como componentes individuais dentro do filme também.
Rebel Moon – Parte 1: A Menina do Fogo já está disponível na Netflix. Rebel Moon – Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes, chegará dia 19 de abril.
Via: LMNT
Portal Zack Snyder • BR: De fã para fã
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1 comentário
Já existe fonte de texto com esses alfabetos?