O diretor de 300 , Liga da Justiça e outros se une à Inverse para uma edição especial sobre levar os super-heróis e os quadrinhos a sério.
Como alguém que cresceu imerso nas páginas infinitamente inspiradoras dos quadrinhos, minha jornada começou com as provocantes páginas da revista Heavy Metal. Até então, uma antologia que abriu meus olhos para o potencial ilimitado da narrativa ilustrada.
Heavy Metal foi uma revelação. Mostrou-me que os quadrinhos poderiam ir além de super-heróis e histórias infantis, mergulhando em temas verdadeiramente adultos, como sexualidade, violência e moralidade. O que se destacou, para mim, foi o trabalho de muitos artistas e escritores europeus, que trouxeram perspectivas diferentes e mais maduras – enraizadas em uma moralidade distintamente europeia, especialmente em relação ao sexo e à ilustração gráfica. Essa mudança de perspectiva alterou a maneira como eu via a narrativa ilustrada. Passei a entender que os quadrinhos poderiam explorar temas complexos, crus e desconfortáveis de maneiras que pareciam, ao mesmo tempo, mitológicas e artísticas.
A partir daí, mergulhei nas obras fundamentais de Frank Miller, como Ronin e O Cavaleiro das Trevas. Essas narrativas icônicas reformularam meu entendimento dos quadrinhos, revelando-os como reflexões profundas da nossa sociedade.
Um dos momentos mais transformadores para mim foi em O Cavaleiro das Trevas, com a frase: “A chuva no meu peito é um batismo… Eu renasço.” Esse momento transformou o Batman em algo maior que a vida, uma figura mítica, cujas lutas não eram apenas físicas, mas profundamente emocionais. No entanto, ao mesmo tempo, Miller o fez incrivelmente humano. Ele não era apenas um super-herói desafiando a dor; era um homem enfrentando o impacto real do tempo e da luta, determinado a se elevar acima disso e encontrar sua relevância no mundo.
Dessa forma, Batman se tornou um espelho para nossas próprias lutas — sua batalha mítica contra o mal refletia os desafios humanos que todos enfrentamos, especialmente à medida que lidamos com a identidade, o propósito e a passagem do tempo. Foi essa profundidade que me atraiu para o mundo dos quadrinhos adultos e me fez perceber seu potencial para explorar temas universais.
Essa evolução do super-herói de algo cru e humano, como visto com Batman, avança para um território mais complexo com Watchmen, de Alan Moore. Aqui, o conceito de super-herói atinge sua forma final em Dr. Manhattan. Um dos momentos mais impactantes para mim, em Watchmen, é quando Wally Weaver diz: “Deus existe e ele é americano. Se essa declaração começar a te assustar… um sentimento de terror religioso intenso e esmagador com o conceito indica, apenas, que você ainda está são.”
Dr. Manhattan não é mais apenas um super-herói — ele é algo muito maior e mais assustador, uma encarnação do poder absoluto, desconectada da humanidade. Esse conceito de terror religioso, diante da ideia de uma figura divina sendo reduzida a uma ferramenta para interesses nacionais, está muito longe da narrativa tradicional de super-heróis. Dr. Manhattan, que começa como um protetor e agente do governo dos EUA, acaba evoluindo para algo tão distante da experiência humana que ele vê as pessoas como insignificantes. O homem mais inteligente do mundo não é mais importante para ele do que o cupim mais inteligente do mundo, como ele diz mais tarde. Essa mudança de perspectiva nos obriga a confrontar o lado mais sombrio do poder — quando alguém, ou algo, com a capacidade de salvar a humanidade, não sente mais nenhuma conexão com ela.
Embora muitas vezes recorramos aos quadrinhos e super-heróis em busca de escapismo ou entretenimento, eu os convido a olhar mais profundamente. Dentro dos painéis coloridos e dos personagens extraordinários, há um rico mosaico dos nossos tempos e da nossa cultura moderna. Os quadrinhos se tornaram nossa mitologia, desconstruindo temas como sexualidade, violência, moralidade e política. Esta coleção de histórias sobre super-heróis que eu ajudei a desenvolver com a Inverse é claramente para adultos. Desde uma análise do fetiche dos super-heróis até a história da vida amorosa do Batman e a formação da moralidade nos quadrinhos — além de entrevistas esclarecedoras com dois lendários criadores de quadrinhos —, olhamos para o gênero como leitores adultos com vidas adultas e pontos de vista adultos.
Nessas narrativas, vemos o reflexo das lutas sociais, seja a crítica ao autoritarismo em O Cavaleiro das Trevas ou a exploração do poder e da ética em Watchmen. Superman, como metáfora para o poderio americano e figuras políticas como Nixon e Reagan, representadas dentro de narrativas gráficas, nos oferecem uma lente para examinar os cenários sociais e políticos de suas épocas. Esses personagens e histórias nos desafiam a refletir sobre as implicações éticas e morais do poder, do heroísmo e da governança.
À medida que viramos as páginas de nossos quadrinhos favoritos, convido-os a apreciá-los, não apenas como entretenimento, mas como um comentário muitas vezes profundo sobre nossa experiência humana compartilhada. No vívido intercâmbio entre palavra e imagem, encontramos um espelho refletindo os triunfos, tribulações e movimentos transformadores do século XX e além. Vamos continuar a explorar, questionar e celebrar a profundidade e a diversidade desta notável forma de arte.
Atenciosamente,
Zack.
A edição de super-heróis de 2024 da Inverse, editada por Zack Snyder, explora o gênero pelo que ele é: um comentário profundo sobre nossa experiência humana compartilhada. Mergulhe na edição completa aqui.
Via Inverse
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