O ator Christopher Reeve, que interpretou o Superman, enfrentou o mesmo problema que Zack Snyder ao fazer O Homem de Aço, em 2013. Considerado por muitos como a melhor interpretação em live-action do amado super-herói da DC, Reeve vestiu pela primeira vez o icônico traje em Superman: O Filme, de 1978. Ele reprisou o papel mais três vezes, culminando em Superman IV: Em Busca da Paz, de 1987, amplamente criticado.
Desde então, os atores Brandon Routh e Henry Cavill seguiram os passos de Reeve, em Superman: O Retorno, de 2006, e na estreia do DCEU de Snyder em 2013, O Homem de Aço.
Durante um painel recente na C2E2, deste ano em Chicago, o autor de quadrinhos e ex-estagiário do diretor Richard Donner, Kyle Higgins, explicou como os planos de Reeve para Superman IV enfrentaram o mesmo dilema filosófico que Snyder usou como base para sua própria abordagem do personagem.
O passado e presente se colidindo
Kyle Higgins relembrou uma conversa que teve com o roteirista Tom Mankiewicz sobre a intenção de Reeve de focar Superman IV no desarmamento nuclear. Por consequência, o autor explicou que sobrecarregar o Superman com dilemas do mundo real destruía o apelo escapista do personagem e, em vez disso, redirecionava a atenção para seu papel como um deus entre os mortais. Confira seus comentários abaixo:
Christopher Reeve concordou em fazer um quarto filme do Superman, que se tornou “Em Busca da Paz”, porque a Warner Bros. prometeu aprovar um filme diferente que ele queria fazer, se ele voltasse e fizesse mais um filme do Superman. Então ele disse: ‘Eu farei isso, mas quero ter controle criativo total, e quero trazer Donner e Mankiewicz de volta para fazer isso. E por um momento, eles consideraram fazer isso. No final, eles desistiram. Mas Tom me contou essa história sobre ir almoçar com Christopher Reeve para lhe dar algumas ideias para a história, e era muito importante para Christopher Reeve que o filme abordasse o desarmamento nuclear, e no que o filme se tornou.
Tom fez um ponto realmente interessante – eu não concordo totalmente com isso, mas para a época especialmente, eu concordo. Ele disse que você não pode contar essa história, porque então o que impede o público de pensar: ‘Por que ele não pode simplesmente voar com todos esses fardos de grãos para alimentar todas as crianças na África? Por que ele não pode resolver esse problema? Aquele problema? Tal problema?’. Quando você reflete muito o mundo fora da sua janela, você perde o escapismo. E se torna algo onde a única história que você pode contar é: ‘E se houvesse um deus ou falso profeta entre nós? Como isso seria ruim?’
No fim das contas, é engraçado que 30 anos depois, isso é tudo que interessava a Zack Snyder. Essa é uma abordagem, sabe, não estou dizendo que há algo errado com essa abordagem, mas é uma abordagem específica. É interessante pensar no final dos anos 70 e início dos anos 80, mesmo em uma representação popular e de mercado de massa do Superman… Eu não diria que “Em Busca da Paz” é um filme de Superman bem-sucedido. Aplaudo a tentativa. Mas essas eram conversas que eles estavam tendo naquela época sobre quanto você pode refletir o mundo real.
Ambas as versões do Superman tentaram abordar questões sofisticadas e do mundo real, o que gerou críticas.
Embora a última atuação de Reeve como Superman seja geralmente considerada a mais falha, seu interesse em ver o personagem focar seus esforços na solução de problemas do mundo real certamente não é único. Não apenas Snyder tentou construir sua versão do Último Filho de Krypton em reflexões filosóficas semelhantes. Mas inúmeros outros escritores o colocaram enfrentando problemas mundanos desde suas primeiras histórias em quadrinhos. Desde confrontar desigualdades raciais até buscar abolir ciclos de pobreza, os fãs viram Superman lutar contra inúmeros males sociais que a humanidade parece incapaz ou indisposta a resolver por conta própria.
Semelhante ao que Snyder introduziu em O Homem de Aço, antes de expandir em Batman vs Superman: A Origem da Justiça, de 2016, a questão se torna: qual direito um ser aparentemente todo-poderoso tem de impor, unilateralmente, sua vontade sobre a humanidade? Não importa quão benevolentes sejam suas intenções. Seja o Superman de Reeve prometendo às Nações Unidas que destruiria todas as armas nucleares. Ou o de Cavill inserindo-se em uma zona de guerra ativa para salvar Lois Lane e se envolvendo demais em complexos assuntos humanos. Inesperadamente, a linha entre protetor benigno e potencial tirano pode começar “confundir”.
Fantástico Vs Real
Ambos sofreram de um problema filosófico central relacionado ao herói da DC, e questão principal: É difícil apresentar um Superman realista, dado sua imagem de escoteiro. Porém, não é impossível, se assim o público estiver disposto a encarar o personagem dado a natureza de espaço e época que está sendo adaptado.
Do ponto de vista narrativo, esse terreno é ao mesmo tempo, extremamente fértil e cheio de armadilhas potenciais. Os fãs da abordagem de Snyder podem aplaudir sua disposição em abordar temas que Superman IV não conseguiu fazer justiça. Porém, o desafio está em apresentar um Superman que seja diferente do escoteiro impecável pelo qual ele é mais conhecido.
Seja justificado ou não, o legado duradouro do Superman é o de um farol brilhante de esperança. Dessa forma, é fácil de manter quando ele está lutando contra alienígenas e salvando gatinhos de árvores. Mas, muito mais difícil quando ele está impondo sua vontade divina sobre os outros.
Via: C2E2
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1 comentário
Não que eu vá dizer que “Superman III” e “Superman IV: Em Busca da Paz” sejam filmes legais… mas qualquer um dos dois é bastante superior a “Superman: O Retorno”!
Dos três, o mais “infiel” às histórias em quadrinhos é o último (“Superman: O Retorno”)… ainda mais que colocaram o superfilho para o herói, o que, além de tudo, foi bastante constrangedor para muitos dos fãs no caso!
Mas, também, “Superman III” e “Superman IV: Em Busca da Paz” têm cenas de pancadaria com os vilões, mesmo que em forma de comédias… fora que não são roteiros plagiados, pois “Superman: O Retorno” plagia, sim “Superman: O Filme”, “Superman II: A Aventura Continua” e “Superman II: A Aventura Continua: A Versão de Richard Donner”! Só as cenas descritas na sinopse e no enredo, mais as cenas finais de “Superman: O Retorno” são realmente inéditas!
E, de resto, “Superman: O Retorno” é o longa-metragem do Super-Homem com mais cenas constrangedoras e furos no roteiro, além de Brandon Routh ter se aproveitado para plagiar a atuação original de Christopher Reeve! Fazer o que, não é mesmo?
Quanto ao mais, parabéns pela excelente matéria feita!
Forte abraço! Firmeza e tranquilidade?