Se a intenção do diretor de Men – Faces do Medo era provocar discussões a respeito de um relacionamento tóxico, não ficou muito claro. Da mesma forma, se a ideia era panfletar uma pauta e ganhar pontos com a mulherada, não sei bem ao certo se conseguiu. Já se seu propósito era causar desconforto, o longa alcançou a proeza de ser perturbador. Mas se, por fim, buscava uma reflexão, com base nas provocações, não foi muito objetivo. Men – Faces do Medo tem uma boa proposta, mas não apresenta preocupação com fazer sentido, dentro de sua complexidade.
- Trailer:
- Sinopse: Após uma tragédia pessoal, Harper (Jessie Buckley) decide ir sozinha para um retiro no meio de um belo campo inglês, na esperança de encontrar um lugar para se curar. Mas alguém ou algo da floresta ao redor parece estar perseguindo-a. O que começa como um pavor fervente se torna um pesadelo, habitado por suas memórias e medos mais sombrios..
Minhas Impressões
O novo filme da A24 – que chega ao Brasil pela Paris Filmes – não deixa claro sua intencionalidade e consistência. Grande parte por conta do roteiro, Men – Faces do Medo dá uma sensação de se tratar de um filme mal estruturado, cujas cenas se perdem entre o imaginário e o impossível. A impressão que deixa é de um amontoado de memórias aleatórias, que buscam descrever os medos da protagonista, sem se importar com a lógica e cuidados com o tema. Em suma, nem mesmo a proposta do pós-terror consegue passar uma mensagem coesa e clara, tal como deveria. É visível a tentativa, mas seu desenvolvimento não é dos melhores.
A criatura que persegue Harper, durante toda sua estadia na zona rural da Inglaterra, deveria chocar. No entanto, não sei se a transformação de uma para a outra me desconectou mais do que chocou, ou se o que me choca é mais o realismo das situações tóxicas pinceladas no longa. Infelizmente, para mim não rolou. Apesar do que ela representa ser mais chocante, ao meu ver, a arte foi bem feita, mas não suficiente para manter a conexão com o roteiro já frágil, a essa altura do filme.
A narrativa é lenta e o que te fisga é a ambientação e a busca pelos significados. O contraste, porém, está em não chegar a lugar algum. Se por um lado despertou o horror atmosférico, por outro, não passou nenhuma mensagem, estampou o lado avesso da sociedade, e só. Para um filme com uma proposta de pós-terror, pecou em não trazer soluções ou uma análise mais profunda, apenas uma representação superficial do que já sabemos – e, em alguns casos, vivemos.
Metáforas, como instrumento do terror psicológico
Alex Garland, diretor e roteirista de Men – Faces do Medo, apresenta o uso de metáforas, para descrever algumas lembranças, pavores e questionamentos. Não fica claro, no entanto, se todas as analogias usadas são criadas pela mente da protagonista ou se a generalização era o ponto-chave da trama. Fato é que, dado ao seu passado de traumas, fruto de seu relacionamento abusivo, Harper (Jessie Buckley) se culpa, ao mesmo tempo em que tem consciência de seu casamento tóxico. Paralelamente, como uma vítima marcada por gatilhos, parece resumir sua experiência ao genérico “todos os homens são iguais”, pincelando uma crítica social.
Entretanto, após as demonstrações da toxidade sofrida por Harper, em todas as camadas sociais apresentadas no longa, o roteiro não se aprofunda e a análise se perde. Neste sentido, dá a entender que a proposta é apenas despertar o desconforto. Não parece ter preocupação em trazer seriedade a uma crítica e/ou reflexão mais profunda que o assunto exige. É como se dissesse: “Olha, é assim que é. Lidem com isso. Por hoje é só, pessoal!” O problema deste tipo de abordagem é que não se aprofunda, tornando o filme esquecível, e para alguns, sequer mastigável.
Conclusão
Para concluir, Men – Faces do Medo impressiona na fotografia e na trilha sonora, um dos poucos motivos que te prendem à trama, dada à inconsistência do roteiro. Entretanto, fazendo um esforço, é possível extrair algumas mensagens, apesar do terror ser mais desconfortante, que psicológico. Fugindo do óbvio, por exemplo, desde a metáfora do “pecado inicial”, representado pela mordida na maçã, Men – Faces do Medo busca, forçosamente, uma relação entre a religião (moralidade e valores) e a toxidade social, aqui representada por Rory Kinnear. Porém, a crítica se perde durante o desenvolvimento, apresentando mais perturbações recheadas de nudez, do que explicações sobre onde se quer chegar com os apontamentos descritos no longa. Ou seja, o filme promete mais do que entrega, o que o faz se tornar frustrante.
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