Liberdade Criativa e o Acordo entre Netflix e Snyder: Qual a diferença entre o que se sabe por Cortes do Diretor e o que se viu em Rebel Moon?
Os Cortes do Diretor de Rebel Moon chegaram na Netflix e, com eles, as críticas negativas ficaram em torno de sua existência. “Snyder se perdeu no personagem?” é uma das frases mais apontadas neste aspecto. Ela é seguida da frase “Mesmo com liberdade criativa, quis entregar Cortes do Diretor”, em tom de deboche. Contudo, é importante entender a diferença latente entre o que se conhecia por “Cortes do Diretor” e o que realmente se viu em Rebel Moon. Desta forma, será possível perceber que muitas destas críticas não se sustentam e que há uma agenda negativa em torno do Snyder que não se justifica nas obras, mas no ódio gratuito de quem usa a crítica para atacar.O que são os Cortes do Diretor?
Historicamente, os Cortes do Diretor ficaram conhecidos por estender a duração de seus filmes originais, com informações adicionais. É uma versão aprovada pelo próprio diretor, em contraste com o lançamento nos cinemas. Em outras palavras, o “corte do diretor” refere-se à versão editada conforme a visão original do diretor, sem interferências externas de produtores ou estúdios.
Durante a produção de um filme, várias etapas de edição acontecem: a montagem inicial, o corte bruto do editor e, eventualmente, o corte final destinado ao lançamento público. Na maioria das vezes, o corte final do filme não é a versão do diretor, pois estúdios e produtores, visando maior lucro, podem modificar o filme. Ou seja, o diretor não tem o privilégio do corte final. Aqueles que têm dinheiro investido no filme, como as empresas de produção, os distribuidores ou os estúdios, podem fazer alterações para torná-lo “mais lucrativo”. Isso aconteceu na Warner Bros. com o Snyder, mas também na Netflix.
A principal diferença entre o corte do diretor e a versão final lançada é a preservação da visão artística do diretor. Muitas vezes, o corte do diretor inclui cenas que aprofundam o desenvolvimento dos personagens, exploram subtramas ou apresentam um ritmo narrativo diferente, com cenas extras ou personagens adicionais, resultando em uma versão mais longa do que a lançada originalmente nos cinemas. Já os Cortes no estúdio ou plataformas de Streaming podem incluir mudanças como finais mais felizes, cenas menos controversas ou a redução da duração do filme para permitir mais exibições diárias nos cinemas.
Vendas Domésticas e Plataformas de Streamings
Com o advento do vídeo doméstico, o termo “corte do diretor” tornou-se também uma estratégia de marketing. Lançamentos de versões estendidas em DVD, Blu-ray ou plataformas de streaming podem atrair tanto novos espectadores, quanto fãs que desejam uma experiência mais completa. Contudo, com o crescimento das plataformas de streaming, tem se tornado mais comum o lançamento de múltiplas versões de um filme. Isso permite que os espectadores escolham entre a versão teatral e o corte do diretor, promovendo uma maior acessibilidade à visão artística original.
Às vezes, o corte do diretor pode acontecer após o lançamento do filme, caso o diretor obtenha mais liberdade criativa ou financiamento adicional. Isso permite a inclusão de efeitos especiais ou cenas que não puderam ser completadas anteriormente, devido a restrições orçamentárias. Foi o que aconteceu com Liga da Justiça de Zack Snyder. Como o diretor havia se afastado, ao retornar após o movimento #releasethesnydercut, ele recebeu um valor do estúdio para finalizar a sua versão.
Por fim, as versões do diretor frequentemente recebem uma recepção mista. Enquanto alguns críticos e fãs apreciam a profundidade e a visão mais completa do filme, outros podem sentir que as versões estendidas são excessivamente longas ou que algumas cenas adicionais não são necessárias para a narrativa. Esses aspectos ajudam a entender melhor a importância e a complexidade do conceito de “corte do diretor”, mostrando como ele pode impactar a percepção e o sucesso de um filme tanto artisticamente, quanto comercialmente.
Os Cortes do Snyder
“Watchmen” (2009):
- Versão Teatral: Condensada para se adequar ao tempo de exibição padrão nos cinemas.
- Corte do Diretor: Adicionou cerca de 24 minutos de material, incluindo cenas que aprofundam o desenvolvimento dos personagens e alguns aspectos da trama.
- Corte ‘Ultimate’: Uma versão ainda mais extensa que integra “Contos do Cargueiro Negro”, uma história em quadrinhos dentro do universo de “Watchmen”, adicionando quase uma hora de conteúdo adicional.
Sucker Punch” (2011):
- Versão Teatral: Recebeu críticas mistas, mas foi vista, sobretudo, como superficial e confusa.
- Corte Extendido: Adicionou 18 minutos de cenas que aprofundaram a narrativa e os temas do filme, proporcionando uma compreensão melhor das intenções de Snyder com a obra, mas ainda não é o Corte do Diretor oficial.
“Batman vs Superman: A Origem da Justiça – Ultimate Edition” (2016):
- Versão Teatral: Recebeu críticas por sua narrativa confusa e por omitir detalhes importantes. Teve várias cenas cortadas que deixaram a narrativa mais confusa. A versão teatral omitiu muitos detalhes que explicavam as motivações dos personagens e os eventos que levaram ao confronto entre Batman e Superman.
- Edição Ultimate: Adicionou 30 minutos de cenas, oferecendo mais contexto e explicações para as motivações dos personagens, resultando em uma narrativa mais coesa e melhor recebida pelos fãs e críticos. Uma mudança significativa é a revelação mais clara de que Lex Luthor manipulou eventos para criar conflito entre Batman e Superman. Há também cenas adicionais que mostram o papel de Clark Kent como jornalista investigando o Batman, e a inclusão da personagem Jena Malone, que desempenha um papel menor, mas importante na investigação de Lois Lane.
“Liga da Justiça” (2017) e “Liga da Justiça de Zack Snyder” (2021):
- Versão Teatral (2017): Após Zack Snyder deixar a produção devido a uma tragédia pessoal, Joss Whedon assumiu a direção e fez mudanças significativas no filme, resultando em uma versão que foi amplamente criticada por sua incoerência e tom inconsistente. Sob a direção de Joss Whedon, muitas cenas foram regravadas e a narrativa foi alterada. O tom do filme foi mais leve, e algumas subtramas foram removidas ou simplificadas. A morte do personagem Silas Stone foi omitida.
- Liga da Justiça de Zack Snyder: Lançada em 2021 após uma campanha massiva dos fãs, esta versão tem aproximadamente 4 horas de duração e inclui muitas cenas novas e expandidas, personagens adicionais, um tom mais sombrio e uma narrativa que se alinha mais com a visão original de Snyder. Esta versão foi muito melhor recebida, tanto por críticos quanto por fãs, e é considerada por muitos como uma versão definitiva da história. Ela inclui muitas cenas adicionais e expandidas. Uma mudança significativa é a morte de Silas Stone, que ocorre durante a tentativa de destruir a Caixa Materna. Além disso, esta versão introduz personagens como Darkseid e Caçador de Marte, que não aparecem na versão teatral, e apresenta um final muito mais sombrio, com uma visão do futuro pós-apocalíptico (Knightmare), onde Superman se corrompe após a morte de Lois Lane.
Outros tipos de Cortes do Diretor
Em Efeito Borboleta, por exemplo, as cenas alternativas traduzem-se em quatro finais: O final teatral, o final do diretor, um final alternativo feliz e um final drástico. Nele, a versão do diretor dura apenas cerca de cinco minutos a mais, então realmente não há muitas cenas novas. No entanto, o que o corte do diretor faz é introduzir uma subtrama que eventualmente compensa em um final alternativo muito mais sombrio.
Isso quer dizer que os Cortes do Diretor de Rebel Moon na Netflix são diferentes dos demais?
Sim e não, e é aqui que o assunto se torna mais delicado, porque muita gente não buscou sequer compreender a diferença entre os Cortes do Diretor mais comuns e os recentes de Rebel Moon, na Netflix.
Estratégia de Lançamento e Marketing
Normalmente, a versão do diretor é uma edição posterior, feita após o lançamento do filme teatral, quando o diretor obtém mais liberdade criativa ou financiamento adicional. Rebel Moon, desde o início, foi planejado para ter duas versões diferentes: uma PG-13 para uma audiência mais ampla e familiar e uma Rated R (+18) para aqueles que buscam uma experiência mais intensa, adulta e autêntica à visão de Snyder.
Os cortes do diretor, geralmente incluem cenas adicionais, subtramas, e desenvolvimento de personagens, resultando em uma versão mais longa e detalhada do filme. Em Rebel Moon, além das diferenças entre as versões não serem, apenas, a adição de cenas que dão acréscimos significativos de conteúdo, temos cenas alternativas de batalha e tipos de morte, com mais sangue e violência, ajustando o tom e a intensidade do filme conforme a classificação etária. Além delas, também temos cenas de sexo que moldam a personalidade da protagonista e finais alternativos, que funcionam como ‘extras’ e ligam mais magistralmente o capítulo 1 e 2.
Nos cortes do diretor comuns, a principal meta é preservar a visão artística do diretor, muitas vezes contrariando as modificações feitas para tornar o filme mais comercializável nos cinemas. Já em Rebel Moon, é atender diferentes públicos desde o início. A versão familiar visa atingir um público mais amplo, enquanto a versão adulta destina-se a espectadores que desejam uma experiência mais visceral e autêntica à visão do diretor.
Receita e Sustentabilidade
Assim, são praticamente dois filmes no preço de um para a empresa. Se a versão familiar for rentável, o que vier da versão adulta é lucro. Ou seja, é algo totalmente novo e inédito! Isso porque o primeiro geralmente atrai fãs hardcore e cinéfilos após o lançamento inicial, sendo uma estratégia de marketing secundária. Entretanto o segundo, ao planejar e lançar duas versões com classificações e cenas diferentes entre si, pode permitir à Netflix alcançar uma base de espectadores muito mais ampla desde o início, maximizando o apelo do filme para diferentes demografias.
Os lançamentos de versões estendidas em vídeo doméstico ou streaming geralmente visam um novo ciclo de vendas e visualizações após a exibição teatral. Mas, com duas versões planejadas para streaming, a Netflix pôde maximizar visualizações desde o primeiro dia de lançamento. Isso promoveu ambas as versões e potencialmente aumentou o tempo total de visualização na plataforma. Contudo, é o que importa para eles, em substituição à bilheteria, ajustando estratégias de marketing para promover as diferentes versões de acordo com o público-alvo.
Conclusão
Na prática, não se trata apenas de uma versão estendida, com cenas adicionais que resulta em um filme mais longo. Trata-se de uma versão alternativa de dois filmes, com um tom totalmente diferente, com estilo narrativo mais linear, novos personagens que serão decisivos para o futuro da franquia, com aprofundamento de personagens já existentes, com mais complexidade na história de fundo e com as mesmas cenas gravadas duas vezes, ambas para cada classificação etária.
Assim, apesar da liberdade criativa total para fazer o seu filme, existiu um acordo para satisfazer as duas partes. O acordo incluía dividir o filme em 2 e entregar uma versão mais familiar e comercial para a Netflix, recebendo em troca o direito de também entregar a sua real visão de Rebel Moon.
Ou seja, a abordagem da Netflix e do Zack Snyder com “Rebel Moon” representa uma inovação no conceito de cortes alternativos, destacando um planejamento estratégico para maximizar a audiência e satisfazer tanto os fãs mais jovens quanto os adultos que preferem conteúdos mais maduros. Essa decisão permite uma flexibilidade comercial maior e a capacidade de atrair diferentes públicos, adaptando a experiência cinematográfica de acordo com as preferências de visualização de uma audiência diversificada.
Ainda em dúvida? Que tal acompanhar todas as diferenças que notamos entre as Partes 1 e 2 de Rebel Moon e os Capítulos 1 e 2 dos Cortes do Diretor de Rebel Moon?
Portal Zack Snyder • BR: De fã para fã
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